02/11/2011

"Entre suspiros" , de Nuno de Freitas

Poema retirado da obra “Entre suspiros”, de Nuno de Freitas


"Espelho mau

Olho-me ao acordar
Para um espelho ingrato,
Que engana o meu olhar,
Com grande aparato…

Espelho que teima,
De forma tão cruel,
Mostrar o que já não reina
O menino de papel…


Idade em linhas vincadas,
Sonhos dobrados por maldade,
Caminhos de pancadas,
Que retiram felicidade…

Como pagava meia vida,
Para poder novamente reviver,
Uma vida mais colorida,
Aprisionando o meu entristecer…

Abro a água quente,
Só para poder criar vapor.
Embaraço aquele espelho que mente,
Mostrando toda a minha dor…

Já com o reflexo nele cortado,
Limpo só um bocadinho,
Para não ver o meu rosto agastado,
Num olhar de quem já foi fofinho…

Quando todo o espelho limpei,
Com choque vi que estava igual.
A plenos pulmões eu gritei,
Como se afastasse todo o mal…

Com lagrima de tristeza
A rolar pelo meu rosto,
Apareces tu rainha da beleza,
Para cuidar deste rei deposto…

Limpas as minhas lagrimas
Com essa tua pele de veludo,
Cortando estas palavras acérrimas,
Com que tanto me iludo…

Envolves então protegido
Por teu abraço sentido,
Onde me deixas adormecido,
Como por amor rendido…

Preciso do brilho do teu olhar
Para me mostrares o caminho.
Para poder caminhar
Pela estrada do nosso destino…

Então, por fim abraçados,
Esqueço esta idade de amargurar,
Limpo estes traços em mim vincados,
E entrego-me rendido ao teu amar. "

2 comentários:

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